Sem o apoio internacional será difícil acabar com a ocupação

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Israel. Netanyahu canta vitória e a Cisjordânia teme a anexação

Entre acusações de corrupção e promessas de anexação dos colonatos na Cisjordânia, o mundo prepara-se para mais um mandato de Netanyahu, que tem o caminho aberto a uma coligação de governo.

Os israelitas acordaram ontem com a vitória eleitoral do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que enfrenta a justiça devido a acusações de corrupção. Mesmo com apenas 35 deputados – o mesmo número que o seu adverário, Benny Gantz -, a eleição de uma maioria de direita permite um quinto mandato ao primeiro-ministro e a aprovação de uma lei que lhe conceda imunidade. O apoio da direita foi assegurado com a promessa de anexar os colonatos na Cisjordânia, à margem da lei internacional.

Como esperado, os partidos de direita – os “parceiros naturais” de Netanyahu, segundo o próprio – declaram ontem a sua lealdade ao líder do Likud. O Kulanu, a União de Partidos de Direita, o Shas e o Judaísmo Unido da Torá elegeram um total de 35 deputados, que juntamente com os 35 do Likud ultrapassam os 60 deputados necessários a uma maioria. Gantz, da coligação Azul e Branca, tem até sexta-feira – altura em que o Presidente israelita, Reuven Rivlin, irá reunir com os partidos para verificar quem tem melhores condições de formar governo – para virar a maré.

Netanyahu, mais conhecido como “Bibi”, precisa desesperadamente de se manter no poder para fintar as acusações de corrupção movidas pelo procurador-geral de Israel, Aluf Mandelblit. O primeiro-ministro é acusado de receber presentes de magnatas israelitas – como cigarros e champanhe no valor de 234 mil euros – e ainda de trocar favores políticos por uma melhor cobertura mediática. Já se prepara um projeto-lei que restabeleça a imunidade parlamentar israelita, levantada em 2005. A ministra da Justiça de Netanyahu, Ayelet Shaked, avisou contra a “criminalização” da política, e defendeu que “o processo político é feito de cedências informais, cujas fronteiras são cinzentas”.

Quem ficou à margem do processo foi a comunidade árabe, cerca de 20% da população israelita, que teve uma das maiores descidas de participação eleitoral de sempre – apenas 44% votaram, comparado com os 64% de 2015. Algo que não é de estranhar, dado o constante incentivo ao ódio que marcou a campanha eleitoral.

Ainda há umas semanas, Netanyahu relembrou no Twitter que Israel “não é um Estado de todos os cidadãos”, mas sim “o Estado-nação do povo judeu, e apenas do povo judeu”, acusando ainda Gantz de planear uma aliança com os partidos árabes. O ex-chefe do Estado Maior das Forças Armadas negou taxativamente, lançando um anúncio de campanha com imagens de bombardeamentos a Gaza, um contador de palestinianos mortos às suas ordens e rematando com a frase “Só os fortes vencem”.

A situação pode ficar ainda mais tensa, caso Netanyahu avance com a anexação dos colonatos na Cisjordânia, onde vivem cerca de 400 mil judeus, rodeados por 2,9 milhões de palestinianos, muitos dos quais viram as suas casas demolidas para dar lugar a esses colonatos.

O embaixador palestiniano em Portugal, Nabil Abo Znaid, reconhece ao i que a Autoridade Palestiniana “está numa situação muito difícil”, tanto a nível político como económico. Znaid conta que os funcionários públicos, incluindo ele próprio, estão a receber apenas 50% dos seus salários. “E talvez no próximo mês recebamos menos”, teme o embaixador.

A anexação de partes da Cisjordânia seria “o fim da linha” para um Estado palestiniano e para a solução dos dois Estados, com a qual Israel se comprometeu nos acordos de Oslo, reconhecidos pela maioria da comunidade internacional, incluindo Portugal. Znaid afirma estar sempre em contacto com o governo português, que diz mostrar “grande compreensão e empatia com a causa palestiniana”.

Questionado sobre a reação das autoridades palestinianas à anexação, Znaid garante: “Não nos vamos envolver em violência. Os meios não-violentos são a única opção, sabemos pela nossa experiência”. A Autoridade Palestiniana conta com o apoio em peso da comunidade internacional. “Sem ele será difícil acabar com a ocupação e alcançar a paz”.

(i online, 10/04/2019)

Netanyahu quer anexar colonatos na Cisjordânia

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As eleições israelitas estão à porta, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tentou mobilizar a sua base eleitoral de direita, este sábado, com a promessa de anexar os colonatos na Cisjordânia, estabelecidos à margem dos tratados internacionais em vigor. Ainda este domingo o ministério da Defesa israelita anunciou planos para construir 3600 casas em território ocupado, expropriando terras privadas palestinianas para a sua construção.

Quando questionado numa entrevista ao Channel 12 News sobre porque não tinha ainda estendido a soberania israelita aos colonatos, como fez com Jerusalém Oriental e os Montes Golã, Netanyahu respondeu: “Quem diz que não o faremos? Vamos nesse sentido e estamos a discuti-lo”. O primeiro-ministro acrescentou: “Se está a perguntar se vamos seguir para a próxima fase – a resposta é sim, vamos. Vou estender a soberania [israelita] e não distingo entre blocos de colonatos e colonatos isolados”.

Mais 400 mil israelitas vivem hoje na Cisjordânia, entre 2,9 milhões de palestinianos, muitos dos quais viram as suas habitações destruídas para dar lugar a colonatos. Netanyahu reforçou: “Não irei transferir a soberania para os palestinianos”.

Apesar da condenação da maioria da comunidade internacional, a impunidade com que tem violado convenções internacionais parece ter incentivado Netanyahu, que sabe poder contar com o veto dos Estados Unidos na ONU, para impedir sanções. Apesar de todas as administrações norte-americanas terem apoiado de algum modo Israel, Donald Trump foi o primeiro a reconhecer a soberania israelita sobre Jerusalém Oriental e os montes Golã.

Contudo, Netanyahu luta internamente pela sua sobrevivência política, com eleições marcadas para esta quarta-feira. O primeiro-ministro enfrenta a justiça devido a um escândalo de corrupção, que lhe pode custar muito apoio. O principal adversário do primeiro-ministro, o centrista Benny Gantz, ganhou destaque nas últimas semanas, devido às suas credenciais enquanto antigo chefe do Estado Maior, algo com grande peso na sociedade israelita.

Vários comentadores desvalorizarem as promessas do primeiro-ministro, assumindo que não será cumprida após as eleições. Mas muitos relembram que Netanyahu disse, antes das eleições de 2015, que nunca iria estabelecer um Estado palestiniano, revertendo o apoio a uma solução de dois Estados. Precisamente o que aconteceu. “Toda a gente pensou que era conversa eleitoral. Mas durante quatro anos ele foi, passo a passo, cumprindo a missão a que se propôs. Na minha opinião ele vai anexar os colonatos”, afirmou Touma-Suleiman, deputado israelita pela coligação árabe Haddash-Ta’al.

Contatado pelo i, o conselheiro da Embaixada palestiniana em Portugal, Fadi Alzaben, condenou as propostas de Netanyahu como uma “flagrante violação de todas as convenções internacionais e resoluções das Nações Unidas”. Alzaben acrescentou que Israel não pode “estar acima da lei”, pedindo seja alvo das mesmas sanções que seria qualquer outro Estado.

O representante palestiniano qualificou o Estado português como “defensor da paz”, e relembrou que “sempre esteve ao lado da legitimidade internacional e solução dos dois Estados”. Alzaben apelou que a União Europeia tome uma posição conjunta, “para proteger a solução dos dois Estados”,  que considera “a única opção para uma paz justa na região”. Quanto à anexação dos colonatos, questionou-se: “Onde será estabelecido o Estado palestiniano, com esta tomada de terras?”.

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